Meus sentimentos sobre o dia do meu aniversário têm mudado ao longo dos anos. Quando se é criança, é muito fácil gostar desta data, claro. Há uma expectativa muito grande em crescer, ver o que vai acontecer na nova idade, mas há também muita segurança. A criança sabe que um aniversário significa alegria, diversão e presentes, apenas isso. Já o adulto não sabe o que o espera. Para a mulher, pior ainda, as pessoas dão conta do seu relógio biológico, das suas rugas e seus cabelos brancos.

Vou relembrar aqui alguns dos meus aniversários mais icônicos, na tentativa de entender porque tenho ficado cada vez mais amargurada quando esta data se aproxima todos os anos.


Minha mãe sempre gostou de preparar festinhas de aniversário para mim e meu irmão. Uma das primeiras que me lembro foi logo antes do meu irmão nascer. Na verdade, eu lembro mesmo porque naquela época meu pai chamou alguém para filmar a festa, pois eu tinha apenas três anos e duvido muito que estas memórias sejam minhas. O tema era abelhinhas e minha mãe fez toda a decoração praticamente sozinha. Eu estava tão empolgada em receber presentes de tanta gente diferente que fiquei o tempo todo na porta da festa "recebendo os convidados", ou seja, pegando mais um presente. Toda vez que alguém apontava na entrada da festa, eu gritava "OBA! MAIS PRESENTE!" e saía correndo para receber. Minha mãe, morta de vergonha, me obrigada a dar um beijinho nos convidados, mas todo mundo achava muito fofo e espontâneo da minha parte. Assistindo às fitas anos depois, descobrimos que, nesta festa, uma "inimiga" do futuro tinha me empurrado no chão e rido da minha cara. Eu só compreendi meu ranço sem motivo por esta menina depois que vi a gravação.

Meu aniversário de cinco anos foi igualmente marcante. Foi em conjunto com o meu irmão - pois, um mês e um dia de diferença entre as datas - e o tema foi "circo". Ocasião perfeita para um palhaço, claro, e eu gostava de palhaços. Porém, os palhaços contratados pela minha mãe - os mesmos da festa da abelhinha - não apareceram! Disseram que ela não tinha fechado o contrato e simplesmente não foram. Resultado, saíram meu pai e meu avô desesperados batendo em todas as casas de festas infantis da cidade, procurando um palhaço que topasse emendar uma festa na outra. Finalmente encontraram, já depois de algumas horas me enrolando e enrolando os convidados - meu irmão não tinha absoluta noção de nada, pois estava completando dois anos de idade. Chegou lá no salão de festas do prédio da minha avó uma trupe de uns dez personagens: um palhaço, seu boneco da escolinha do professor Raimundo (?????), Cinderela, outros personagens aleatórios, e uma banda inteira fazendo o maior barulho. Esse povo todo veio espremido no Fiat uno do meu pai e no gol do meu avô, até hoje não sabemos como, e já estavam fazendo a quarta festinha infantil do dia. O fato é que meus pais dizem que tudo valeu a pena - até pagar o quíntuplo do preço do outro palhaço - porque eu fiquei maravilhada! Correndo de um lado para o outro, super feliz. Acho que foi o auge das festas de aniversário da minha família.

Assim, os aniversários infantis continuaram acontecendo na minha casa, alguns mais ou menos ambiciosos. Até que o dia caiu numa sexta-feira treze e fui obrigada a fazer um Halloween, pois amante da língua inglesa e já prevendo meu futuro gótico-metaleiro. Essa foi minha festa de doze anos, aquela fase horrorosa da pré-adolescência, nos anos quase 2000. Ela foi marcante porque eu vesti uma roupa que não queria, por influência da minha mãe. Estava com um conjunto de calça preta de cintura baixa e um top preto, mostrando a barriga, e um tênis de plataforma tipo Spice Girls. E eu não queria mostrar a barriga! Me senti totalmente horrorosa - menos os tênis - a festa inteira. E, pra completar, tomei uma Fanta uva achando que era coca-cola, pois o salão de festas do prédio estava super escuro. Outra coisa que lembro é que meu atual noivo estava presente na festa, tem até foto com ele para comprovar. No mais, preciso dizer que minha mãe influenciando o modo como me visto reverberou até hoje na minha vida - agora menos, pois moro sozinha. A ponto dela me olhar de cima abaixo na porta de casa, eu pronta para sair, e eu ter que sair correndo pra trocar de roupa ou ajeitar o cabelo.

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