Lembro de uma lenda que contavam no meu antigo trabalho de um professor que saiu no meio de uma aula e nunca mais voltou. Ele colocou o CD do listening para tocar a atividade e disse à turma que precisava ir buscar algo na sala dos professores. Só que ele pegou o beco, deu no pé, foi embora assim simplesmente. Os alunos, confusos com a demora, foram na secretaria e ninguém nem tinha visto quando ele passou pela porta. Eu queria muito ter conhecido essa pessoa, mas não tive o prazer. Fico me perguntando qual teria sido a gota d'água pra ele. Também gostaria de saber se foi um ato de coragem ou de desespero (ou os dois?).

Eu já desisti de algumas coisas na minha vida. A maior delas, com certeza, foi do curso de arquitetura depois de três anos sofrendo, eu finalmente cheguei à conclusão de que não dava mais. E nem comuniquei a ninguém, resolvi apenas sumir e reprovar por falta. Assim como o professor, nunca mais voltei. Também já pedi demissão uma vez porque o trabalho pagava mal e tinha uma mulher que gritava comigo. E, nesse emprego, foram tantas pessoas desistindo no final do semestre que o homem do RH, enquanto separava meus documentos, me disse "eita, tanta gente saindo, né?!". Eu só balancei a cabeça e disse "e não é!". Minha vontade era só de perguntar a ele "por que será, né?! cadê a fulaninha que grita com todo mundo, já gritou com você hoje?". Mas não valia a pena. E ela não ia gritar com ele.

Hoje estava vendo o vídeo de uma menina que deletou as redes sociais e sumiu por seis meses. Ela tentava explicar o que mudou na vida dela e justificar sua decisão. Na realidade, qualquer coisa que você diga de "ah, eu deletei porque estava usando demais e queria fazer detox", ou outra conversa fiada desse tipo, somente acontece porque as pessoas apenas podem sair das redes sociais. Ninguém é obrigado a ficar em lugar algum a não ser que haja alguma lei dizendo o contrário. Redes sociais, emprego, curso, cinema, lojas, casa, restaurante... Já pensou que todo mundo pode simplesmente sair? Dar no pé? Ir embora? Pegar o beco? Lavrar?

Eu fico pensando em quantas vezes estabeleci umas metas absurdas. Ler 20 livros em um ano. Fazer exercício físico cinco vezes por semana. Escrever 50,000 palavras em um mês. Postar todos os dias no blog. Deixar de comer chocolate por sei lá quanto tempo. Algumas dessas coisas sem planejamento algum, ou seja, fadadas ao fracasso. Outras dessas metas apenas me fizeram perder absolutamente o prazer em fazer as coisas, de tão focada que eu estava apenas no objetivo numérico, e não na alegria que aquela atividade me fazia. Tem vezes que eu nem lembro mais porque me envolvia com metas. Hoje, pra mim, eu vivo melhor sabendo da possibilidade de apenas desistir.

1 Comentários

  1. É uma decisão e tanto. Não gosto de tomá-la de cabeça quente, mas às vezes eu tomo essa decisão, mas depois de muito pensar e refletir. To rindo e chorando com o print da conversa ao mesmo tempo!

    Boa semana!


    Jovem Jornalista
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    Até mais, Emerson Garcia

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