É difícil escrever coisas bonitas em tempos sombrios, tempos de morte. Há dias em que nem uma flor abrindo num arbusto seco pode ser visto como um milagre. Talvez seja uma flor sobrevivente e todas as outras flores daquele arbusto podem não ter tido a chance de florescer.

Hoje o dia está tão escuro de chuva e finalmente o clima está condizendo com a tragédia que estamos vivendo. Mesmo assim, ainda escuto os vizinhos aglomerados com suas famílias que vêm visitar todo final de semana. Não tem tempestade que mantenha as pessoas em casa. Não tem vírus nem morte que faça algumas pessoas conseguirem pensar nos outros.

Essa flor da foto nasceu num arbusto aqui em casa. Plantamos ele todo florido ano passado e agora ele passa pela transição do outono, ficando seco e quase sem folhas. Apesar disso, essa flor insistiu em abrir, sozinha. Ela não esperou a primavera. É uma flor ansiosa, eu diria. Estou aqui olhando para ela e pensando em como estou conseguindo ficar isolada até hoje em casa sem ver minha família há mais de um ano. Mas ainda não sei se sou a flor ansiosa ou o arbusto seco.

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