Eu moro no mato. Como consequência, minha casa é constantemente invadida por muitos insetos, morcegos, sapos, lagartixas, aranhas, até saguis, tejus (um tipo de lagartão) e timbus. Os menores eu consigo conduzir pra fora ou matar (tipo as baratas), mas os grandes me dão pavor porque eu não sei pra onde eles vão voar. Além disso, eu sempre fui menina de prédio, logo, não tenho a menor habilidade com essas coisas simplesmente porque em prédio só tem muriçoca e barata.

Dia desses estava sozinha em casa, à noite, usando o computador deitada no meu sofá quando comecei a escutar um barulho de morcego. Porém, não parecia o barulho habitual, mais ao longe pelo jardim. Achei que ele estivesse na porta da frente de casa tentando entrar. Foi quando senti algo se mexer no encosto do sofá e me virei para trás. O bicho estava se arrastando todo desengonçado e, obviamente, o barulho que eu estava ouvindo estava vindo exatamente das minhas costas. Dei um pulo, peguei o computador e o celular e saí correndo para o corredor. O bicho voou sem direção - provavelmente porque as luzes estavam todas acesas e acho que morcego não enxerga muito bem na luz - e eu corri para o quarto e lá fiquei.

Meu corpo todo tremia, minha cachorra - pra quem passei meu medo de coisas voadoras - veio atrás de mim e ficou um tempo comigo no quarto. Mandei um áudio com a voz tremida para o meu noivo, mas ele não podia fazer nada, claro. Resolvi ligar para os meus pais pelo FaceTime. Eles me encorajaram a ir na sala e ver onde estava o bicho. Reuni minhas forças e fui. Olhei para sala e nada, quando virei para a cozinha, o bicho estava se arrastando pelo chão - e, aqui pra nós, que coisa horrorosa é um morcego se arrastando pelo chão, misericórdia! - e eu voltei correndo pro quarto. Meus pais mandam um "deixa de ser mole" e, bom, não é bem assim que se resolve um medo, não é mesmo?! As pessoas realmente esperam que uma pessoa tremendo e chorando de medo vá simplesmente superar tudo após ouvir um "deixa de ser mole"? Sim, elas esperam. E, não, ninguém supera medo assim, e pode até gerar um trauma.

Enfim, após uma segunda tentativa frustrada de ir olhar o bicho e voltar tremendo e chorando pro quarto, resolvi ficar lá dentro. Os cachorros vinham checar como eu estava de vez em quando. Terminei ficando umas quatro horas lá dentro, já que o noivo só chegou em casa tarde da noite. Estava com muita fome, mas o medo venceu. Ainda passei uns dias receosa para sentar novamente no meu sofá onde o bicho apareceu e também estou ficando na sala sozinha com as janelas fechadas e poucas luzes acesas. Também estou cobrindo as frutas com um pano para evitar o lanche noturno do morcego.

Parando agora para refletir sobre esta história eu consigo entender que não foi uma reação normal. Outras vezes eu fiquei na sala enquanto uma mariposa gigante estava pousada na parede (e as mariposas são os bichos mais descontrolados voando e pousam nas pessoas). Também já esperei calmamente outros morcegos saírem da sala, apenas me cobrindo com uma almofada para evitar qualquer contato. Desta vez, imagino que o acúmulo de ansiedade, estresse e cansaço tenham contribuído para essa reação exagerada. Tenho passado os dias praticando autocontrole - ou achando que estou praticando, quando posso estar apenas internalizando todas as emoções - que um evento assim me faz reagir de maneira desproporcional. Sei disso porque tenho arrancado a pele do meu dedo com mais frequência chegando a ferir e tenho chupado bastante gelo. Reconhecer isso já é meio caminho andado.

2 Comentários

  1. Enfrentar nossos medos não é uma tarefa fácil. E as pessoas dão esses conselhos para o nosso bem, mas na prática, com certeza a história é outra. Mas é o que você falou: reconhecer tudo isso, já é meio caminho andado. Vai aos poucos, vai no seu ritmo! E eu acho que teria uma atitude igual ou até pior que você! Uma barata já me faz esconder, imagina um morcego? E no futuro, você vai até rir dessa história. ♥

    Beijos, Carol
    www.pequenajornalista.com

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  2. Ai, amiga, muita força aí.
    Todo mundo tá meio fora do normal, então é aquilo: reconhecer que foi exagero, se perdoar por isso e seguir em frente.
    Espero que essa ansiedade coletiva passe logo.

    Um beijo,
    Fernanda Rodrigues | contato@algumasobservacoes.com
    Algumas Observações
    Projeto Escrita Criativa

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